terça-feira, 19 de agosto de 2008

Passeata Infantil (coletânea)

Só um fato curioso...
Ontem eu estava meio chateada e sentia a necessidade de pegar o caminho mais longo até a casa da minha avó... Sabe, só pra passear...
Coloquei o violão nas costas e fui seguindo... Desci a ruazinha que dava nas pracinhas bonitinhas com casas legais e árvores floridas.
Contornei a primeira praça e segui para a segunda. Então, nel mezzo del camin, encontro umas 20 crianças entre seus 4 e 6 anos acompanhadas por alguns adultos. Estavam todas de uniforme e com placas coloridas de giz de cera que diziam algo como "Salve a natureza" e "Não corte as árvores". Usavam também faixas de cartolina na cabeça com nomes de animais em extinção.
Achei engraçado. Como a calçada era estreita e eu não podia me arriscar no meio da rua, esperei a passeata passar enquanto olhava pros dizeres nas placas e faixas. Então um dos adultos empurrou uma criança na minha frente e disse "Olha, ela quer te dar uma coisa". Não aceitei o presente da criança. Afinal, ela estava sendo forçada a me entregar a tal coisa. Esperei até as últimas crianças passarem.
Então parou diante de mim um garotinho bochechudo, loirinho, com as mãos estendidas para mim. Peguei o papel que ele segurava. Era um cartão em papel reciclado. Perguntei a ele se era para mim, ele fez que sim com a cabeça antes de sair apressado atrás dos coleguinhas.
Quando olhei mais atentamente para o cartão vi que dizia "Nunca mate os tubarões" entre manchas coloridas. Abri o cartão e lá estava um belo desenho de um tubarão com um sol poente e a assinatura: João Vítor. Não pude deixar de dar uma longa risada.
Então lembrem-se amiguinhos: nunca mate os tubarões. ;D

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Peripécias 03-02-08 (autor: Alcir Del'Guy)

“[...] Enfim, nunca mate os tubarões.” – E terminava o seu discurso assim, com a voz firme e uma certeza incontestável nos olhos. O aglomerado que se formara em volta durante sua oração pasmava embasbacado, enquanto ele passava olhos por olhos por todos aqueles que o espectavam.
Assustei quando aqueles olhos me acertaram. As palavras que dissera ainda pairavam desordenadas pela minha consciência e como se num estalo foram logo todas prum canto em ordem numérica. E ele terminava a observação em meus olhos, me engolindo – e meu coração apertou de súbito por um instante.
Olhos nos olhos, era como se fosse ainda maior do que quando falava e comecei a sentir um cheiro estranho de loção pós-barba vindo daquele molecote de pernas lisas. As outras crianças que o circundavam talvez não entendessem o porquê daquele garoto franzino, ainda menor do que todos eles, parecer de repente um gigante com um pirulito na boca.
Ele deu um último gole na xícara de café amargo e logo aquela expressão tão adulta, tão certa, desmanchou-se num sorriso infante. Aquele homem de mochila do batman desfez-se então de seu terno e gravata numa gargalhada deliciosa, e saiu galopante pelo parque, deixando sequer rastro daquele haver enorme.
Aquela mão pesada que apertava meu peito soltou, e voltou meu coração taquicárdico. Continuei olhando enquanto a criança pululava por entre as árvores lançando-se por aí em manobras desengonçadas, e saí balançando a cabeça. Homens...

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